segunda-feira, 30 de abril de 2012

O quero-quero - ano 02 - nº 414


O QUERO-QUERO

ANO 02 – Nº 414

São cinco horas e quarenta e quatro minutos. Depois de ter preparado o chimarrão sentei à mesa para escrever essa postagem. De repente, ouço o quero-quero cantar, em um voo rasante sobre a cidade. Foi apenas um canto rápido e a ave se aquietou. Como aqui no paralelo vinte e nove, o dia apenas clareia a partir das seis horas e trinta minutos, nessa época, não consegui enxergar a ave, apenas a identifique por seu canto.

Bastou o cantar do quero-quero para que eu viajasse mais de quatrocentos quilômetros e cerca de cinquenta e seis anos para o passado onde encontrei um guri de seis anos correndo pela campina perseguindo os quero-queros que protegiam seus ninhos na encosta da coxilha. As imagens vívidas e um tanto idealizadas dão conta de uma época de partilha e aprendizado com as manifestações mais simples da natureza quase não atingida pela atuação do ser humano.

Correr e jogar-se ao chão, desafiando o voo rasante das aves tornava a brincadeira uma diversão de guri e um desespero para os quero-queros preocupados em proteger seus ninhos. Assim exercitava o aprendizado sobre a reação dessas aves que são símbolos do Estado do Rio Grande do Sul. Também assim, compreendia que a convivência com os animais e com a natureza, em sua forma original, requer cuidados e limites. Nunca ultrapassá-los fazia parte das regras de comportamento dessa interação necessária entre ser humano e recursos naturais. Tentar ser mais esperto que o quero-quero representava um risco ao equilíbrio fundamental dessa convivência.

O quero-quero cantou mais uma vez, bem próximo à janela do meu apartamento. Foi como se me encontrasse no meio do campo num quente e esplendoroso dia de verão. Junto com as lembranças renasce o compromisso ético de convivência equilibrada entre o natural e a manufatura, entre o que se desenvolve sozinho e o que fazemos imaginando que aperfeiçoamos o natural.

Votos de uma boa segunda-feira!
DESTAQUE DO DIA

Primeira manifestação das
Mães da Praça de Maio (35 anos)

As mães da Praça de Maio são mulheres que se reúnem na Praça de Maio, Buenos Aires, para exigirem notícias de seus filhos desaparecidos durante a ditadura militar na Argentina (1976-1983). Alguns pais, considerados subversivos, tiveram seus filhos retirados de sua guarda e colocados para a adoção durante os cinco anos de ditadura. Quando acabou a ditadura, muitos filhos estavam sob guarda de famílias de militares. A situação é retratada no filme La historia oficial, o primeiro da América Latina a vencer o Oscar de melhor filme estrangeiro, que mostra uma manifestação do grupo. As mães da Praça de Maio venceram o Premio Sakharov em 1992. Ainda hoje, todas as quintas-feiras, as mães realizam manifestações na Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, buscando manter o desaparecimento de seus filhos vivo na memória de todos os argentinos.[1]


[1] MÃES DA PRAÇA DE MAIO. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A3es_da_Pra%C3%A7a_de_Maio. Acesso em 30 abr 2012.

domingo, 29 de abril de 2012

Presunção acadêmica - ano 02 - nº 413



PRESUNÇÃO ACADÊMICA

ANO 02 – Nº 413

Os debates em aula, no contexto do Seminário Interdisciplinar nesse sábado, se desenrolaram em torno da formação de Equipes de Saúde. Entre as dificuldades apontadas pelos mestrandos estava a presunção de alguns profissionais que sempre se consideram mais importante que os demais e, por isso, um trabalho interdisciplinar, que poderia ser rico, transforma-se no cumprimento de tarefas hierarquicamente determinadas por algumas categorias de profissionais da saúde.

Quase todo o debate se desenrolou no sentido de que, para haver integração de saberes, é fundamental ter humildade. E ter humildade é reconhecer que o meu saber é apenas uma parte do saber maior que uma equipe pode conter. Entretanto, há categorias que lidam com a saúde das pessoas que, historicamente se consideram ‘as mais importantes’, ao ponto de que se não fosse elas, não haveria cuidado da saúde.

Outro elemento que apareceu da discussão da aula foi o fato de que é justamente uma dessas categorias presunçosas que mais comete erros, capazes de provocar a inutilidade de pessoas e até a sua morte.

Quando atuamos em equipes, a prerrogativa fundamental é considerar o seu saber no mesmo nível do saber dos demais. Qualquer tentativa de ultrapassar esse limite indispensável coloca em risco o trabalho conjunto, a articulação e a cooperação dos diferentes saberes, numa equipe multi e interdisciplinar.

É sabido que essa presunção não é invenção da contemporaneidade. Jesus Cristo já enfrentava esse desafio com os seus trabalhadores, segundo o evangelho. Numa reunião de sua primeira equipe, alguns dos seus cooperadores vieram com uma pergunta constrangedora: “Que é, porventura, o maior...?”. Surpreendido, Jesus tomou uma criança ignóbil e a colocou no meio dos presunçosos discípulos e lhes disse: “...se não vos tornardes como crianças [...]” e arrematou, “aquele que se tornar humilde como uma criança, esse é o maior...”.

Parece fazer parte da natureza do ser humano querer ser mais do que os outros. Isso acontece em todos os lugares. Pode ser o meio escolar, o meio acadêmico, o profissional, o religioso, dentro de comunidades, de partidos, de movimentos sociais etc. Onde houver algum ser humano, ali haverá o olhar enviesado de alguém se considerando mais que os outros. Pois é essa particularidade que quebra a possibilidade mais profunda de compartilhamento de saberes e de convivência em padrões de fraternidade.

Em verdade vos digo que, se não vos
converterdes e não vos tornardes como
crianças, de modo algum entrareis
no reino dos céus. (Mt 18.3)

Com votos de um bom domingo!


DESTAQUE DO DIA

Dia Mundial da Dança

Foto 1
O Dia Internacional da Dança ou Dia Mundial da Dança comemorado no dia 29 de abril, foi instituído pelo CID (Comitê Internacional da Dança) da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) no ano de 1982. Ainda é uma efeméride nova e até mesmo desconhecida para muita gente, pois começou a ser realmente lembrada no Brasil nestes últimos anos. Cada vez mais, no entanto, artistas e profissionais da área reconhecem que é importante celebrar a data para, inclusive, dar maior visibilidade à dança, lembrar-se de sua importância e de suas demandas. Ao criar o Dia Internacional da Dança a UNESCO escolheu o 29 de abril por ser a data de nascimento do mestre francês Jean-Georges Noverre (1727-1810). Ele ultrapassou os princípios gerais que norteavam a dança do seu tempo para enfrentar problemas relativos à execução da obra. Sua proposta era atribuir expressividade a dança por meio da pantomima, a simplificação na execução dos passos e a sutileza nos movimentos. Noverre se destaca na história por ter escrito um conjunto de cartas sobre o balé de sua época, “Letters sur la Danse”.[1]


[1] DIA INTERNACIONAL DA DANÇA. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_Internacional_da_Dan%C3%A7a. Acesso em 29 abr 2012.

Foto: https://encrypted-tbn2.google.com/images?q=tbn:ANd9GcSCqqefttK25wvoQ36lZLyvmX2BS9YsdKZ9mFpOcDBBlcyYCDex. 

sábado, 28 de abril de 2012

Mais poderoso que Deus - ano 02 - nº 412

MAIS PODEROSO QUE DEUS
ANO 02 – Nº 412

A aula de ontem, na disciplina de Estudos sobre Inclusão Laboral e Saúde do Trabalhador, nos Mestrados do IPA, foi sobre o Sentido do Trabalho e a Espiritualidade. Ao visitar os textos sobre o assunto surgiu, no debate, a questão da espiritualidade filtrada pela religião. Entenda-se aqui, religião no sentido mais abrangente do termo, incluindo todas aquelas que têm como inspiração uma ou mais divindades.

A reflexão levou a turma na direção da forma como os complexos doutrinários religiosos se estabelecem com a prerrogativa de determinar a forma como as divindades são, deixam de ser, se manifestam, abençoam, se omitem, castigam. Firmadas nas literaturas denominadas, por boa parte delas, como ‘As Escrituras’, estabelecem interpretações hermenêuticas afirmando aos seus seguidores qual seria a vontade das suas respectivas divindades para o mundo e para as pessoas.

É como se as divindades só atuassem através de discípulos privilegiados, para os quais elas se manifestam prioritariamente. Esses iluminados detém o poder de assumir a voz da divindade e discernir o que o ser humano deve e o que não deve fazer. O padrão ético é ditado, através dos seus púlpitos e de suas missivas, com caráter solene, capaz de impregnar de santidade, seus discursos e preces.

Assim, um conjunto dogmático se constitui na autêntica ‘voz da divindade’, incontestável, irreparável, como verdade absoluta, capaz de dominar mentes, consciências e corações dos seus seguidores. Como esses porta-vozes sagrados são ‘infalíveis’ em suas pregações, a vontade das divindades são cumpridas à risca, sem debates e sem qualquer análise crítica-reflexiva, do tipo, “está dito, cumpra-se!”.

No debate da aula, percebeu-se, que na prática, os iluminados que pronunciam as determinações divinas são mais poderosos que as próprias divindades. São eles que controlam essas determinações e honestamente ou não, ditam os padrões de comportamento para os iniciados. Dessa forma, os desvios e as distorções têm pouco controle e os limites entre a autêntica espiritualidade, mediada pela religião, e o fanatismo, são bastante tênues. Dessa forma, pode se dizer que os iluminados de um sistema religioso têm mais poder do que Deus.

Com votos de um ótimo sábado de reflexões!
DESTAQUE DO DIA

Dia Nacional em Memória das
Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho


Trabalhador é um termo amplo que inclui todo aquele que vive do seu trabalho - isto inclui o escravo, o servo, o artesão e o proletário. Na atualidade, o trabalhador é considerado legalmente (formalmente) como todo aquele realiza tarefas baseadas em contratos, com salário acordado e direitos previstos em lei. No caso de voluntariado, trabalha-se em instituições sem fins lucrativos, não sendo, portanto, assalariados.[1]

De acordo com relatório elaborado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), cerca de cinco mil trabalhadores morrem no mundo todos os dias por causa de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. O documento, denominado Trabalho Decente – Trabalho Seguro, alerta que a maioria da força trabalhista mundial não possui segurança preventiva, serviços médicos nem mesmo compensação para acidentes ou doenças.

Caracterizar e registrar as doenças do trabalho, no Brasil, ainda tem sido uma tarefa muito difícil. Isto acontece, segundo William Waissmann (coordenador de pesquisas do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (CESTEH)), devido às dificuldades em notificá-las e pelo fato de os mecanismos de proteção ao trabalhador não serem muito bem definidos. O acidente é muito mais fácil de se notificar porque se vê, o que não acontece com as doenças, que surgem lentamente e nem sempre são diretamente relacionadas ao trabalho.[2]


[1] TRABALHADOR. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Trabalhador. acesso em 28 abr 2012.
[2] SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHADOR BRASILEIRO. Disponível em http://meusalario.uol.com.br/main/trabalho-decente/saude/saude-e-seguranca-do-trabalhador-brasileiro-1. Acesso em 28 abr 2012.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Boias-frias de luxo - ano 02 - nº 411


BOIA-FRIA DE LUXO
ANO 02 – Nº 411

O sinal fechou e os carros pararam normalmente. Como era uma das mais movimentadas avenidas da cidade, a quantidade de veículos era considerável. Quando o trânsito para assim, aproveito para me desconcentrar um pouco e reparar a reação das pessoas que estão nos carros, de um lado e de outro, os que me antecedem e os que vão à frente. Foi o que fiz. Quando olhei para a esquerda deparei-me com uma dessas caminhonetes pretas, de luxo, grande. Uma dessas que, segundo as ofertas de jornal custam mais de cento e quarenta mil reais, bem novinha!

Havia apenas o motorista, engravatado, jovem, imagino que fosse um executivo. De repente, começou a se movimentar e apanhou algo que estava sobre o banco do passageiro. Quase não acreditei! O sujeito apanhou uma marmita e uma colher de plástico e começou a almoçar, ali, bem no meio do trânsito enquanto o sinal estava fechado. Evidentemente que não dava para perceber o tipo de comida, mas acredito que tinha arroz, feijão, um pedaço de carne e por aí afora. A sofreguidão com que engolia o alimento era de quem estava com pressa de verdade.

Fiquei imaginando o ato contínuo: limpar a boca, tomar a escova de dente, colocar creme dental, abrir uma torneirinha dentro da caminhonete e escovar os dentes ali mesmo enquanto o sinal não abria.

É impossível imaginar até que ponto o ser humano é capaz de ir para cumprir metas, atingir escores, ser o primeiro. O mais importante é estar na frente, não importa as besteiras ridículas que se cometa. O pensamento fixo na promoção, o gloriar-se diante do grupo seleto de amigos pelos números alcançados. Um dia desses ouvi uma notícia que dava conta de um empresário brasileiro que se chateou por ser considerado o décimo mais rico do mundo. Reclamou, e parece que conseguiu ser reconhecido como o sétimos mais endinheirado do planeta.

A contemporaneidade tem imposto ao ser humano (se é que há ‘humano’ nisso) atual uma divisão perigosa entre ser gente e ser poderoso. Já não importam mais as aspirações e sonhos da construção de uma vida realizada enquanto humana, constituída de carne, sangue, alma. Todos os horizontes de plenitude se decompõem em números, índices, estatísticas. Não há mais tempo para uma refeição, engole-se alguma coisa em pleno trânsito. Os pratos mais consumidos são o hambúrguer, o cachorro-quente e o sanduiche. As bebidas mais degustadas são o refrigerante (água gaseificada com melaço), suco e achocolatado de caixinha. Transforma-se o existir numa louca corrida contra o pêndulo de quartzo que pulsa por todos os lados: no pulso, no painel do carro, no celular, no laptop etc.

Muito tarde a pessoa percebe que todas essas coisas são tão desnecessárias e que foram elas mesmas que roubaram os melhores momentos do seu existir. Pena que a maioria só percebe muito tarde!

Votos de uma sexta-feira, com refeições dignas!
DESTAQUE DO DIA

Morte de Gramsci (75 anos)

Antonio Gramsci nascido em Ales, 22 de janeiro de 1891 e falecido em  Roma a 27 de abril de 1937. Foi um filósofo, político, cientista político, comunista e antifascista italiano.

A obra escrita de Antonio Gramsci é normalmente dividida cronologicamente em antes e depois da sua prisão pela ditadura fascista italiana. No período pré-cárcere, Gramsci escreveu ensaios sobre literatura e teoria política, publicados em jornais operários e socialistas. No Brasil, uma parte destes textos foi publicada no livro Escritos políticos
No período de cárcere, temos duas obras. As Cartas do cárcere, escritas para parentes e amigos e posteriormente reunidas para publicação. E os 32 Cadernos do Cárcere, de 2.848 páginas, não eram destinados à publicação. Trazem reflexões e anotações do tempo em que Gramsci esteve preso, que começaram a 8 de Fevereiro de 1929 e terminaram em Agosto de 1935, por conta dos seus problemas de saúde. Foi Tatiana Schucht, sua cunhada, que os enumerou, sem, todavia levar em conta sua cronologia. Depois do final da guerra, os Cadernos, revisados por Felice Platone, foram publicados pela editora Einaudi – juntamente com as cartas que, da prisão, escrevia a familiares. Num famoso artigo escrito antes de sua prisão, intitulado 'A Revolução contra O Capital ', Gramsci afirma que a revolução bolchevique representava uma revolução contra o livro clássico de Karl Marx, considerado o guia básico da socialdemocracia e do movimento operário antes de 1917. Ia contra várias premissas fazer uma revolução socialista em um país atrasado como a Rússia, que não reunia a condições econômicas e sociais que se consideravam indispensáveis para a transição ao socialismo. A influência póstuma de Gramsci encontra-se associada principalmente aos mais de trinta cadernos de análise que escreveu durante o período em que esteve na prisão. Estes trabalhos contêm seu pensamento sobre a história da Itália e nacionalismo, bem como ideias sobre teoria crítica e educacional que são frequentemente associadas com o seu nome.[1]


[1] ANTONIO GRAMSCI. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Antonio_Gramsci. Acesso em 27 abr 2012.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Sinal dos tempos - ano 02 - nº 410


SINAL DOS TEMPOS
ANO 02 – Nº 410

Passei boa parte da minha infância vivendo no campo e cultivando a roça. Nessa época não dispúnhamos de qualquer equipamento de comunicação com o resto do mundo e nem do mundo conosco. Poucas pessoas, na vizinhança, possuíam um aparelho de rádio alimentado por bateria de seis volts e carregada por cataventos. As informações chegavam a cavalo, quando alguém nos visitava e falava das novidades que aconteciam aqui e ali.

Notícias sobre parentes, que moravam distante, faziam parte do conteúdo de cartas, que enviávamos e recebíamos pela gentileza de algum amigo que ia à cidade fazer compras e cuja espera podia durar mais de um mês.

Nesse contexto, minha mãe examinava o céu e dizia: vamos enfrentar um tempo de seca. Noutra época, olhando outro quadrante do firmamento falava: vamos ter tempestades, talvez até granizo, hoje. Acertávamos o único relógio da casa por uma tabela que indicava o horário da aurora e do pôr do sol. Esses eram os sinais dos tempos que nos orientavam cotidianamente.

Ontem à tarde, passei pelo escritório de um colega que me perguntou a localização de uma expressão da Bíblia. Respondi que sabia aproximadamente onde estava, mas que com o auxílio do Google era rápido localizar. Assumi o seu computador e fui em busca da resposta. Nem a página do buscador abriu. Tentei outros buscadores e nada. Acabamos procurando manualmente, a citação de que ele necessitava. Reclamei: o que há com o teu equipamento que não abre nem a página do buscador mais famoso do mundo? Ele respondeu com um ‘não sei’ titubeante complementando que não estava conseguindo ‘navegar’ na internet.

Despedi-me dele e fui realizar as outras coisas que havia planejado. No final da tarde, fiquei sabendo que alguns cabos de fibra ótica haviam se rompido deixando parte da região sul sem acesso a internet. Pensei comigo: sinal dos tempos. Dos tempos contemporâneos cuja velocidade, em algumas circunstâncias, transcende a da luz. Tempos nos quais a perda de segundos é capaz de nos irritar, tamanha a impaciência que a contemporaneidade nos impõe e nos cobra.

Com votos de uma quinta-feira plenamente conectada!
DESTAQUE DO DIA

Morte de Husserl (74 anos)

Edmund Gustav Albrecht Husserl nasceu em Proßnitz a 8 de Abril de 1859 e morreu em Friburgo a 26 de Abril de 1938. Foi um matemático e filósofo alemão, conhecido como o fundador da fenomenologia.

Husserl se concentrou nas estruturas ideais, essenciais da consciência. O problema metafísico de estabelecer a realidade material daquilo que percebemos era de pequeno interesse para Husserl, diferentemente do que ocorria quando ele tinha que defender repetidamente sua posição a respeito do idealismo transcendental, que jamais propôs a inexistência de objetos materiais reais. Husserl propôs que o mundo dos objetos e modos nos quais dirigimo-nos a eles e percebemos aqueles objetos é normalmente concebido dentro do que ele denominou “ponto de vista natural”, caracterizado por uma crença de que os objetos existem materialmente e exibem propriedades que vemos como suas emanações. Propôs um modo fenomenológico radicalmente novo de observar os objetos, examinando de que forma nós, em nossos diversos modos de ser intencionalmente dirigidos a eles, de fato os “constituímos”. No ponto de vista Fenomenológico, o objeto deixa de ser algo simplesmente “externo” e deixa de ser visto como fonte de indicações sobre o que ele é (um olhar que é mais explicitamente delineado pelas ciências naturais), e torna-se um agrupamento de aspectos perceptivos e funcionais que implicam um ao outro sob a ideia de um objeto particular ou “tipo”. A noção de objetos como real não é removida pela fenomenologia, mas “posta entre parênteses” como um modo pelo qual levamos em consideração os objetos em vez de uma qualidade inerente à essência de um objeto fundada na relação entre o objeto e aquele que o percebe. Para melhor entender o mundo das aparências e objetos, a Fenomenologia busca identificar os aspectos invariáveis da percepção dos objetos e empurra os atributos da realidade para o papel de atributo do que é percebido (ou um pressuposto que perpassa o modo como percebemos os objetos).[1]


[1] EDMUND HUSSERL. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Edmund_Husserl. acesso em 26 abr 2012.